sexta-feira, 16 de dezembro de 2011
Pra Pensar....
Encontrei este texto no facebook de uma amiga mega querida, foi publicado na revista Lola e de autoria de Magali Moraes.
Vale a pena ler!
Mantenha-se ao alcance das amigas
Escrevo esse texto ainda sob efeito de um almoção com uma amiga. Eu poderia abrir o zíper do jeans para me recuperar do banquete. Só que nem lembro da comida, provavelmente comi pouco porque meu estômago acabou de roncar. O que estou digerindo até agora é a quantidade de coisas que contamos uma para a outra.
Peraí. Por que mesmo a gente ficou tanto tempo sem se ver?
Não faço ideia. Foi um mês ou uma eternidade? Ver no Facebook não conta. Prefiro o sentido literal do verbo, aquela alegria de enxergar a amiga sentada na frente, olho no olho, rímel no rímel, sem nada pra fazer a não ser prestar atenção e não perder o fio da meada. Duas mulheres conectadas feito um celular que sai do modo avião e finalmente encontra o sinal da operadora. Falando, ouvindo, falando, ouvindo. E a comida de coadjuvante na história. Desculpe, saladinha, mas a fome era de amiga. Não podíamos desperdiçar um raro momento como aquele. Pulamos direto para o que interessava: a atualização imediata de tudo o que ficou para trás.
Tem amizades que hibernam sem motivo aparente. Ou vários, como trabalho, stress, viagens, filhos, faculdade, namorado, marido, problemas de saúde, confusões de família. É justamente para administrar o overbooking da vida que a gente precisa das amigas. São elas que nos escutam e nos aconselham a sobreviver com dignidade. Não adianta comprar cremes caros se a testa segue franzida.
Quando duas amigas decidem recuperar o tempo perdido, sai de perto. Se a amizade é das boas, se as verdades podem ser ditas, se existe química entre elas, é só se reencontrar para que tudo volte automaticamente. A afinidade, as confidências, a sensação reconfortante de estar junto dessa pessoa que você escolheu para ser sua amiga. Isso, sim, é alimento.
Então um almoço parece pouco. E injusto. O assunto acumulado daria para esticar em linha reta e ir daqui até a lua. Ou, vá lá, esticar a sobremesa durante a tarde inteira. Uma conversa entre amigas vai abrindo parênteses, formando novos parágrafos, organizando o pensamento e desestressando mais que shiatsu express. Por via das dúvidas, é melhor colocar um alarme na agenda para repetir todos os meses: não posso ficar longe dessa bandida, não posso, não posso.
A gente gasta energia para conquistar tantas coisas. Mais respeito no trabalho, mais milhas e viagens, mais porta-malas no carro, mais it-bags e it-shoes, mais regalias com o gerente do banco, mais convites para festas, mais isso e aquilo. Conquistar até é fácil, quero ver você ser boa no reconquistar. Amigas sentem o distanciamento, pode apostar. Precisam sentir o perfume umas das outras. Garanto que tem alguma amiga sua esquecida na prateleira mais alta e inacessível do closet. Pegue uma escadinha, um trem, um navio, um barco a remo e vá ao seu alcance.
O problema de um almoço tão clarividente e oxigenador como esse é que a gente lembra das outras amigonas que também não vê faz tempo. De novo: ver de enxergar na frente, de esticar a mão e tirar um fio de cabelo que caiu no rosto. E são muitas amigas, para a felicidade dessa que vos tecla. Bate uma saudade coletiva tipo jogo de dominó. Quantas peças importantes eu deixei cair e não juntei?
Agora minhas outras amigas vão ler esse texto na Lola e perguntar quem foi a musa inspiradora. Mulheres quando resolvem ter ciúmes, você sabe como é. Elas podem nunca mais aceitar almoços com oito bolsas na mesa (que são divertidíssimos, além de práticos). Cada uma vai exigir exclusividade, e com razão. Tudo bem, eu corro o risco. Reorganizo minha rotina, altero os relógios. Só assim reconquisto todas elas. O que não falta é restaurante e assunto.
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